30.5.07

hoje foi um dia passado em alfama a dividir a tarde com um amigo. encontrei (a que seria) a loja dos meus sonhos e balões para pôr à janela. já começaram as decorações para os santos. o lavadouro de alfama está aberto das 9-12h e 14-17h. aconselho.
é bom aproveitar lisboa para lá da minha janela, o meu quintal.
Lazy Days, M.Ward

À porta do prédio ouvia-se já a máquina a trabalhar, como que a coser o fresco do átrio à expectativa do vestido novo, os pontos da agulha sentidos nas escadas de madeira galgadas a correr até ao primeiro andar. O tecido comprado noutro país, noutros tempos. Protegido por papel de seda branco já amarelecido que se revelou intacto onde se sobrepunham as dobras para encerrar o embrulho; aberto uns dias antes, lentamente, a conceder um aroma estranho à história contada e à colcha da cama, impregnando-as para sempre naquele irrelevante fragmento de tempo que perduraria até depois da infância, numa fotografia que seria tirada três dias depois. Flores azuis num fundo branco. Um folho, tal como tinha pedido. Acordou durante a noite, ansiosa. Apenas um único corpo deitado na cama da mãe. Amanhã iria tocar o telefone para descerem as duas. Uma não regressaria a casa até anoitecer. Outra sentar-se-ia perto da janela durante horas, a apagar presságios do que poderia correr mal. A querê-la de volta mais cedo.
Desceram minutos depois de desligar o telefone.
- Prometo que te acabo o vestido hoje. Diverte-te querida.
Dentro do Mercedes novo respirava-se quase apenas perfume.
- Aceita a bolacha que a Ofélia te dá, não sejas malcriada. Está melhor a tua avó?
- Sim, está no sofá.
- Esta miúda tem cada uma. Olha lá os pés no banco! Já não está no hospital a tua avó?
- Não, está no sofá.
- Vou levá-la ao médico, pá. Só a mãe é que não vê que a miúda não tem a cabeça assente na terra.
- Não me apetece a bolacha, desculpe Ofélia.
- Come a bolacha que a Ofélia te deu. Comprou-as para ti.
Então não dizes nada do carro? Não gostas?
- Estou um bocadinho mal disposta.
- Põe o cinto, pá. Estás doente? Se calhar está doente. Já comeste alguma coisa hoje? Se calhar ainda nem deu nada à miúda para comer. Vamos ali comprar um iogurte.
- Já comi, obrigada. Estou mal disposta.
- Estás mal disposta...O teu primo Rodolfo recebeu um prémio por ser tão bom aluno. Vês?
- Ele não é meu primo.
- Tas mesmo malcriada, hã? Deve ser lá das companhias da tua mãe. Não é teu primo porquê? A tua mãe além de fufa ainda te põe porcarias na cabeça? Esta é a tua família. Ai a porra. Vá. Olha lá os pés! Tas a chorar porquê?
Vá... Tens fome? Vou parar aqui. Vai lá buscar um iogurte para a miúda.
- Não quero, obrigada. Não quero comer. Estou mal disposta.
- Ai a porra. Vai lá buscar o iogurte, Ofélia! Estou aqui parado porquê?
- A miúda diz que não quer. Se ela não quer...
- Ela sabe lá. Vai lá porra! Estou mal parado. Olha a porta, pá!
Tiveste boas notas?
- Sim.
- Tiveste boas notas? O teu primo foi o melhor da escola.
Lá a amiga da tua mãe quis que passasses da segunda para a quarta, mas a tua mãe não quis... nem perguntou nada a ninguém. Essa também é uma delas, essa directora. Enfim...
- Tiveste boas notas? Não tens a quem sair burra, minha filha.
Tanto tempo, Ofélia. O que tiveste lá a fazer? Anda, entra lá que já é tarde, pá.
- Não podia passar à frente das pessoas.
- Não batas com a porta, porra!
A tua avó está lá a dormir no sofá, é?
- Não, está só sentada.
- Estás a desdenhar a atenção que as pessoas estão a ter contigo? Nunca te faças de parva. Não és burra nenhuma! Nunca te faças passar por burra. Nem faças dos outros parvos. Ainda te falta crescer muito, minha filha. Tens muito que aprender. Ai...
E a tua mãe já está a trabalhar?
- Sim.
- Ai sim? Pois... imagino...ela tem muitos conhecimentos...
E a casa nova? Ainda hão-de exigir-me que pague a renda. Têm a mania das grandezas, depois olha.
- A casa é bonita. A vizinha tem um cão. Damos-lhe bolachas que a mãe comprou.
- Nem convidaram para ver casa nenhuma. Devem ter convidado outras pessoas...Ainda apanhas uma doença por causa do cão. Ai a tua mãe tem dinheiro para andar a comprar bolachas de cão? E tu se calhar nem comeste nada ainda. Tens comido legumes?
- Comi muito. A mãe dá-me muitos legumes.
- Ofélia dá o iogurte à miúda.
- Eu não quero, obrigada. Eu estou mal disposta. Podes parar?
- Ai a porra! Aonde é que eu vou parar o carro agora! Tas mal disposta porquê?
Mas que...! Vê lá se a miúda tem febre? Vens toda à fresca. A tua mãe devia ter-te vestido uma coisa mais quente.
- Eu não tenho frio. Quero vomitar.
- Oh que porra! Paramos aqui na bomba, se este cabrão me deixar passar.
- A miúda não tem febre.
- A mãe quis que eu trouxesse outro casaco, mas eu é que não quis.
- Vai lá com a miúda à casa de banho.
- Anda querida. A Ofélia vai contigo. É bonita a tua casa?
-Quero vomitar. Eu vou sozinha.
- A Ofélia vai contigo. Ofélia, vê lá se há para aí um casaco ou uma camisola à venda.
- Aqui? Aqui na bomba não se vendem essas coisas.
- Vê lá, pá, estou a pedir-te. E vai lá com a miúda.
Não sejas malcriada!
- Anda querida, a Ofélia vai contigo.
- Não, quero ir sozinha, obrigada. E não preciso de nenhuma camisola.
- Então vai lá. A Ofélia está aqui fora.
- Ofélia! Vomitou, ela?
- Acho que sim.
- Achas que sim? Então não foste com ela?
- Fui. Mas ela não quis que eu entrasse.
- Não quiseste porquê? És malcriada? Não vês que as pessoas querem ajudar-te? Tens o nariz muito levantado, tu...tens, tens. Não quiseste porquê? Tens alguma coisa contra a Ofélia?
- A miúda não quis, não ia entrar à força.
- A miúda sabe lá o que quer. Ainda tens muito que crescer, minha filha, até fazeres o que te apetece. Ai...
Vomitaste? Deves ter comido porcarias. O que é que comeste ao pequeno-almoço? Alguma porcaria! Bebeste leite, ao menos?
- Sim. E comi pão e queijo.
- Queres um sumo? Dá aí um sumo à miúda. Mas não comeste fruta.
- Não quero, obrigada.
- Mas não queres nada porquê? Estás armada em malcriada? Recusas tudo o que te dão, é?
- Mas eu vomitei...
- Vomitaste...ainda gostava de saber porquê. Que porcarias é que comeste? Ontem jantaste o quê? Hambúrguer?
- Não, peixe. Com brócolos e cenoura.
- E então a tua casa nova é bonita?
- Para que é que queres saber se a casa da miúda é bonita, Ofélia? Também queres uma casa nova, é?
- É uma pergunta como outra qualquer. Estou só a falar com a miúda.
- Sim, é bonita. A Mi está a fazer-me um vestido.
- Então agora tratas a tua mãe pelo nome? Mas que raio de ideia é essa? A tua mãe dá-te umas liberdades muito estranhas.
...Ah, sim? Ela tem jeito para isso, lá para a costura.
- A minha mãe não disse nada. Eu é que lhe chamo Mi.
- Minha mãe? Porque dizes minha mãe? Sei bem que é tua mãe! Não estamos a falar da mãe de mais ninguém. Ai...para que é o minha mãe.
Julgas que as pessoas são parvas? Julgas que não entendem? Ai...porra para isto. ...Vamos ai a um sítio qualquer comparar um casaco, ou uma coisa qualquer.
- Não é preciso, obrigada. Eu não tenho frio. Eu tenho muitos casacos. A mãe comprou-me dois casacos novos.
- Eu é que sei se é preciso, não és tu! Não respondas! Comprou-te casacos novos? Ainda bem que estão ricas. Vamos lá comprar uma roupa quente. E umas botas. Andas para aí com os pés quase descalços.
- Mas não está frio. Foi a minha prima que me comprou as sabrinas. E o vestido.
- Eu não preciso que te comprem nada. Essa gente...é uma puta, essa também.
- Foi a mãe que lhe deu dinheiro para ela ir às compras comigo...
- Estás a responder-me, é? Ainda bem que a tua bem está rica e não precisa de nada. Se calhar foi alguma das amigas que lhe arranjou o trabalho. Se a calhar foi essa cabra da tua tia.
- Não digas mal da minha mãe! ...Nem da minha tia!
- Estás a gritar? Ai a merda...está calada e não me respondas! Malcriada. Sabes o que é que essa fufa da tua tia fez? Não fales sem saber...ela e a tua mãe. Um dia conto-te, minha filha... Não me levantes a voz. Só eu é que sei! Além de fufa é uma filha da puta.
- Vá, acalma-te. Estás muito enervado. Olha que a miúda está a chorar.
- Vai mandar acalmar...estou enervado estou. Só eu é que sei...
- Vá, querida, toma um lenço que a Ofélia tem aqui. O pai está enervado, vá.
- Estou enervado, estou. Que porra esta... Venho buscá-la, pago-lhe o colégio, as roupas...ainda hão de querer vir buscar mais dinheiro. Os favores das amigas e dos amigos não devem chegar.
- Ai...vá...estás a chorar porquê? Vá, estacionamos aqui e vamos comprar uma camisola e umas calças para a miúda. O vestido que te dei no ano passado já não te serve? Já não deve servir...o da prima deve ser melhor... olha que não, minha filha. De certeza que ela não to foi comprar onde comprámos o outro. De certeza que não custou a mesma coisa.
...Quem é que te deu essa mala?
- Foi a tia.
- Ah, sim?...Filha da puta. Para que é que trouxeste essa mala? Fizeste de propósito, tu. Mas que porra...fufas e putas. Anda lá, pá. A Ofélia já desapareceu. Onde é que se enfiou? Mas que porra...
Anda lá, pá. Despacha-te. Ofélia! Estás com pressa, é?
Vamos comer primeiro. Entramos já neste.
- Já sabes que o papá ganhou um prémio?
- Ela quer lá saber...Mas devias de querer, minha filha, para saberes que não descendes de gente burra. Devias de te aplicar nos estudos e seguir ciências, porque se o teu pai tem cabeça para isso tu também tens. Não tens razão nenhuma para seres burra. A tua mãe, apesar de tudo, também não o é. Por isso tu só podes ser inteligente. Vê se trabalhas. Tiveste boas notas?
- Sim.
- Vá, chama lá o empregado. O que é que vais comer?
- Eu estou mal disposta.
- Mas que porra! Maldisposta porquê? Não estás bem ao pé das pessoas?
Vais comer peixe, então. Se estás maldisposta, não te faz mal nenhum.
Vais comer a vitela, Ofélia? Então eu como isso contigo, quero lá saber. Como uma coisa qualquer.

Julho 2005
Nos últimos 3 meses olhei para ti vezes sem conta. A objectiva da máquina ficava parada pela tua pele. Os detalhes, em ti, queria procurá-los por dentro. Abrir-te a carne, dissecar os músculos com precisão, passar os meus dedos no lado de dentro das tuas costas. Recompor-te. As datas só agora me servem para ordenar os momentos. O tempo, até agora, apenas serviu para medir ausências. As estações, os meses, nunca se mediram pela enumeração de uma data. Não foram os dias contados pelos dedos, não falámos do jejum imposto pelas horas que faltavam para uma visita, nunca datas marcaram acontecimentos. A não ser agora, na medida que me é possível; na medida infalível de contar a distância.
Por vezes dou por mim a procurar-te do lado de fora da janela, no cinema, a revelar-te nos químicos, no tempo de exposição do papel. Segundos apenas, minutos, no máximo.
Rio-me do gosto que sempre me deu guardar-te. Como dobrar a camisa de dormir antiga de uma avó já morta. Desdobrá-la, lavar-lhe a cambraia, retirar o amarelo do tempo. Voltar a dobrá-la, guardá-la na gaveta. No processo de restauro da minha memória, ela volta a andar pela casa. A trança negra a descer-lhe pelas costas, depois enrolada ligeiramente acima da nuca. Ela em pé. Ganchos pretos e dois travessões de tartaruga. Que ritual magnífico. Ser mulher, ser avó era dividir comigo as mãos que entrelaçavam o meu fascínio naqueles gestos. Dividir comigo os gestos que acabaram por ficar nas minhas mãos de menino. Dividir contigo o lado de mim que não ladeia o teu corpo ainda tão novo de homem, dividir contigo os gestos que poisaram nos teus cabelos. Dividir contigo uma fotografia tirada atrás de um biombo, umas meias tuas, uma mala cheia de cartas das quais duas foram escritas por ti.

Junho 2005
Naquele ano festejámos a chegada do Verão. Ao final do dia quis apagar a cicatriz recente, o risco meticuloso na tua pele ainda vermelha que denunciava os centímetros de avanço, a crescente proximidade do fim.
Esperei por ti aqui, junto da entrada, quando os dias eram já apagados pelo teu corpo. Adiámos a ida ao teatro, adiámos a festa de aniversário, os cafés no parque, os passeios sem destino certo, o movimento para lá da tua varanda, sem ser o dos barcos e o dos carros na ponte, o das pessoas. Algumas regressariam indiferentes no próximo sábado com os cães, como se pudesse ser esse um gesto banal, premeditado. Tivesses tu ainda, tivéssemos nós, a garantia de todos os minutos dessa semana. Desejei tantas vezes que não voltassem a passar naquele pedaço de relva para que pudesse ao menos questionar o que lhes teria corrido mal, pressupor a hipótese de uma tragédia. Acalmar a inveja que sentia daqueles passeios patéticos e repetidos, do rasto fresco que as bicicletas dos filhos deixariam no caminho de terra seca, do acumular tão provável dessas marcas semana após semana.
Começámos por embalar o presente como se mudássemos de casa. Por registar cada minuto, concretizar disfarçadamente os últimos desejos fazíveis. Antes de nos cansarmos de contar o esgotar dos dias.
Coloquei-me junto da ombreira da porta. Queria ter-te pedido quando chegásses, que aguardasses junto das escadas, com a luz a clarear as pontas dos teus cabelos, a tornar mais fria a imagem escondida das tuas costas. Queria ter-te guardado naquela imagem antes de saber que um dia esperaria por ti sem que voltasses a chegar. Queria ter relembrado contigo algum fragmento de uma tarde antiga de Julho. Queria que esperássemos ansiosamente, mais uma vez, pela luz do fim de tarde em Marraquexe na esplanada do Café de France enquanto o calor torcia o ar à nossa volta e o tornava irrespirável.
A necessidade de um registo fotográfico vive disso, de fragmentarmos os dias para editarmos os momentos, relíquias guardadas num álbum, numa caixa de bolachas, num sótão, numa gaveta que evitamos abrir. De imprimir os momentos para os trazer de volta. Reparo agora pela primeira vez, nesta fotografia, no canto direito da tua boca.

Setembro 2005
Saiu hoje no jornal mais uma homenagem ao teu trabalho. Numa das fotografias aparece a tua sombra, um registo de ti no registo da tua ausência.
Às vezes tenho como certo que sou capaz de te guardar como se guarda uma recordação. Como um registo multiplicado vezes sem conta pelas ruas onde sei que passarei sem ti, uma memória fotográfica que não se transformou numa fotografia antiga, uma falta aceite com a resignação de um sorriso.
Faz me falta saber de ti. O teu nome perto do meu.
Lembro-me de chegares devagar, de tomares conta do tempo em que os meus olhos demoravam a medir a paisagem à medida dos teus; das tuas costas, dos teus cabelos, do teu colo. Tudo tão teu. Deliciava-me a conhecer-te os gestos, a tua boca e a minha, a tua pele. A minha a descolar-se lentamente, revirada sobre a carne viva. O meu corpo encostado ao teu, os nossos odores misturados no prenúncio do teu cheiro a terra.
Nunca sacudi o resto de pó que deixei por reanimar. Habituei-me ao prazer da tua memória e misturei-o com o pó de prata que resta das fotografias. Nelas vou imprimindo a tua história já gasta na minha.

Fevereiro 2003
Quando os teus olhos se viraram para mim, o teu pescoço e os teus ombros deslizaram pelo mesmo movimento lento (ou teria sido o ar quente a demorá-lo) e pararam por segundos ao mesmo tempo que o som das mesas dos cafés e das máquinas, que se apagaram as vozes e os aromas da cozinha. Só o teu cheiro e os pássaros continuaram a espalhar-se nos espaços transparentes por entre as coisas – a terra e o céu, o desejo no meu corpo e o teu.
Poderia ter sido assim durante horas. Poderia ter-te rodeado com as minhas pálpebras abertas sem que desses conta. Aproximar-me da tua boca e trocar a falta de vento pelo teu respirar. Mas os nossos momentos nunca iriam ser longos e as horas haveriam sempre de ser medidas em círculos dobrados em quartos pelos nossos dedos. Dividimos o tempo e pedimo-lo de volta, com a mesma objectividade com que se pede a devolução de um livro.






25.5.07

she took from her head a golden hair
it is threaded on the dress i'm about to bear.


day one

the building is cold.
emptied with white.
to grow up in Lisbon (the journeys there).
having their gestures reflected in the mirrors through my acts.
parting from that; to go back intuitively.
indentations within, and others more visible onto the skin.
objects that become my property.
arms supporting the body against an open window – a photograph taken.
the scratched paint on the wall and the overused pavement
joining together as a corner,
faking a single line in an image.


day two

the inside of a fruit.
the segments.
the noise of a dress being made – the cotton flowers quickly moving across the table
the mutual expectancy of seeing the form change,
(a construction of many things between us),
a shared gaze, like a secret.
today the same space is smaller and emptier of the people that slept there.
the walls divide different things, more strictly, by other individual languages.
still images keep the existence of a landscape.
re-collections.
re-creations of memories. as they feel.


day three

the detail of an indentation,
the sign of any kind of happening,
any kind at all.
the few lines, part of a story (the only fragment ever told), are enough.
from that,
launched into any kind of happening,
any kind at all.
Good morning, Mr Rabbit! What are you doing here, good old friend?
What about you Partridge? What brings you here? – asks the rabbit.”

satisfaction.


day four




day five

the building was high.
a bird was recovering from an injured wing in the balcony.
it took a few days.
after that it would come back sometimes. then it stopped coming.
they prepared a small bed and food.
at the same time life would go on as usual,
the sound of the door, the floor being cleaned,
the onions frying along with the constant smell of coffee.
then it was a big dog, recovering also.
a dogs leg partly covered in blood, much of the flesh exposed.
it stayed in the kitchen between the oven and the cabinet that divided the room,
quiet,
in pain.
ointments, some home made,
it took weeks.
the onions frying ready for the chicken cut in small parts.
the sound of dried bay leaves in a bag. tomatoes and salt. the floor being cleaned.
the dog resting. happy.
it recovered and went away,
coming back very often.


day six

holding the breath unintentionally,
the cold water surrounded the skin arresting the body for a few minutes.
after that, the temperature becomes bearable.
only me inside the water.
all of them (don’t remember how many),
all women, by the side of the river.
the time is soft and slow enough
to lay the fingers in between the seconds,
gliding just above us,
like the warm wind.
the smell of pine nut shells being crushed between a small stone and a rock.
a little radio.
the highest of mountains.
the skin of the feet being pierced by the things on the soil.
a little pain is expected,
no need to notice – the feet still bare.
the smell of water and earth together.
something passes on amongst us like a sound that can not be heard.
no need to notice.



20.5.07

- Lembro-me de quando sonhava comigo já adulta. Com menos dores do que agora. As dores que me custavam a acreditar que não fossem fáceis de tratar.
- Peço um café para ti?
- Não, outro copo de vinho por favor.
- Tens frio?
- Não.
- Mas encosta-te a mim na mesma. Eu tenho.
- Que pedintes, nós. O que fazemos agora?
- Apertamos os atacadores dos ténis como se estivéssemos simplesmente aqui sentados a escolher um sítio para irmos a seguir. Não achas que já devias ir usando sapatos de mulher?
- Que asno me saíste. Entrelaça os teus dedos nos meus como se estivéssemos a criar uma forma com utilidade mas nos faltasse um lápis.
- Sempre te vais embora?
- Não sei.
- Paraste?
- Para que serviria uma forma destas?
- Para guardar fragmentos dos dias.
- Afinal tem utilidade, então.
- Paraste?
- Vamos embora, sim?
- Não me ouves?
- Não.

3.5.07



para espreitar.


... do livro Ciconia Ciconia, de Andrea Petrlik Huseinovic, escritora e ilustradora croata.
(Termina com o depois (da guerra) já florido).

1.5.07

Fotografias de P. Cava, poemas de W. Whitman

O amor é uma palavra imensa, com sílabas de chocolate. O amor é uma carta onde se diz tudo o que a boca não quer dizer. O amor é saber o nome completo das flores e dos pássaros.

José Jorge Letria

ALEX



Fotografia de Robert Parkeharrison, do livro The Architect's Brother.

Um dos livros que me faz (tanta) falta.

Bom 1º de Maio!

10 minutos de Susana Seivane. Para dançar!
(soubera eu 'postar' aqui o video...o you tube por vezes também não me obedece. deixá-lo.)


Drawing by John Collier (1980), inspired by a quote from Carl Sandburg's poem "Mill Doors": "You never come back. I say goodbye when I see you going in doors, the hopeless open doors, that call and wait and take you then for -- how many cents a day? How many cents for the sleepy eyes and fingers?"