30.5.07

Setembro 2005
Saiu hoje no jornal mais uma homenagem ao teu trabalho. Numa das fotografias aparece a tua sombra, um registo de ti no registo da tua ausência.
Às vezes tenho como certo que sou capaz de te guardar como se guarda uma recordação. Como um registo multiplicado vezes sem conta pelas ruas onde sei que passarei sem ti, uma memória fotográfica que não se transformou numa fotografia antiga, uma falta aceite com a resignação de um sorriso.
Faz me falta saber de ti. O teu nome perto do meu.
Lembro-me de chegares devagar, de tomares conta do tempo em que os meus olhos demoravam a medir a paisagem à medida dos teus; das tuas costas, dos teus cabelos, do teu colo. Tudo tão teu. Deliciava-me a conhecer-te os gestos, a tua boca e a minha, a tua pele. A minha a descolar-se lentamente, revirada sobre a carne viva. O meu corpo encostado ao teu, os nossos odores misturados no prenúncio do teu cheiro a terra.
Nunca sacudi o resto de pó que deixei por reanimar. Habituei-me ao prazer da tua memória e misturei-o com o pó de prata que resta das fotografias. Nelas vou imprimindo a tua história já gasta na minha.

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