30.5.07

Fevereiro 2003
Quando os teus olhos se viraram para mim, o teu pescoço e os teus ombros deslizaram pelo mesmo movimento lento (ou teria sido o ar quente a demorá-lo) e pararam por segundos ao mesmo tempo que o som das mesas dos cafés e das máquinas, que se apagaram as vozes e os aromas da cozinha. Só o teu cheiro e os pássaros continuaram a espalhar-se nos espaços transparentes por entre as coisas – a terra e o céu, o desejo no meu corpo e o teu.
Poderia ter sido assim durante horas. Poderia ter-te rodeado com as minhas pálpebras abertas sem que desses conta. Aproximar-me da tua boca e trocar a falta de vento pelo teu respirar. Mas os nossos momentos nunca iriam ser longos e as horas haveriam sempre de ser medidas em círculos dobrados em quartos pelos nossos dedos. Dividimos o tempo e pedimo-lo de volta, com a mesma objectividade com que se pede a devolução de um livro.

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