28.4.07

Luísa truxera com ela o saco onde tinha guardado o resto dos livros há minutos atrás, sem se dar conta. Atava as duas asas. Um saco vazio.
O Largo de Camões estava cheio de gente. Passava entre o barulho como se a manhã não tivesse ainda terminado. Como se não terminasse, não se largasse dela.
Fechou o casaco e agarrou os braços a amparar o copo com as mãos, suportada por elas, onde depositava o desfalecimento das suas forças.
Sentar-se-ia à janela do comboio. Arrepender-se-ia. Até de ter tido um filho. Pesar-lhe-ia depois a culpa insustentável de querer largar tudo. Consolar-se-ia no instinto ávido de o abraçar e de não mais afastar dele os braços para o compensar de desejar por segundos que não tivesse nascido.
Tinha o delinear dos lábios esgotado, a face inerte. Adormeceria até chegar à estação perto de casa. E horas depois, erguida por um esforço meramente motor. Os dedos cravados nas pernas, dentro dos bolsos. Duas moedas, apenas, num deles.

Sem comentários: