27.4.07

II

De um lado está uma estrada e o mar. Do outro podem subir-se quatro montes baixos, áridos, onde crescem algumas flores. Muito poucas. No meio há um terreiro com uma igreja, que serve também como tela de cinema.
Dentro de casa a cadeira de baloiço faz ranger a madeira do chão e o ruído mistura-se com o dos passos, cada vez mais próximos, com o da concertina e o do violoncelo.
A avó está sentada, embala os suspiros para a frente e para trás, enquanto borda o pequeno-almoço num tecido apoiado sobre o vidro da moldura da fotografia do marido, como faz todas as noites. Guarda depois os panos de cambraia bordados na gaveta dos chocolates. E volta a suspirar quando pendura a fotografia na parede 133 vezes furada, porque o prego está sempre a cair. 134, contando com o furo acabado de fazer.
Lá fora deixaram de ouvir-se os passos. A música pára por alguns segundos enquanto três vozes fazem soar um ai...longo e tremido como a luz. Mas, lenta e crescente, retorna a valsa.

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